Presidente da Anvisa confirma tentativa de mudar bula da cloroquina em reunião no Planalto
À CPI da Covid, presidente da Anvisa disse que rejeitou a ideia e que não sabe de quem partiu a proposta. Ele disse ainda que cloroquina não deveria ser usada em tratamento.
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
O presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, confirmou nesta terça-feira (11), durante depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, que houve a sugestão do governo federal para a mudança da bula da hidroxicloroquina,
como havia informado o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta, em depoimento da semana passada.
Torres afirmou que estavam na reunião Braga Neto (chefe da Casa Civil), Mandetta (então Ministro da Saúde), Nise Yamaguchi (médica defensora da cloroquina), mais um médico, cujo nome não se recorda.
"Esse documento foi comentado pela doutora Nise Yamaguchi, o que provocou uma reação, eu confesso, até um pouco deseducada e deselegante minha. A minha reação foi muito imediata de dizer que aquilo não poderia ser", disse Barra Torres. "Não tenho a informação de quem é o autor, quem foi criou, quem teve a ideia. A doutora, de fato, perguntou dessa possibilidade e pareceu estar, digamos, mobilizada com essa possibilidade", afirmou.
Barra Torres afirmou que, logo após a proposta, Mandetta saiu da reunião. "Eu me retirei logo depois", contou.
Ao ser questionado pelo relator da CPI, o senador Renan Calheiros, sobre se recomenda ou não o uso de hidroxicloroquina, o presidente da Anvisa ressaltou que os estudos RCT duplo cego não apontam eficácia. Ele disse que há um estudo em andamento (Coalizão 5) que avalia dados de uso de hidroxicloroquina em casos leves que termina em 31 de dezembro desse ano. Porém, Torres foi claro em não recomendar uso do medicamento.
VEJA OUTROS PONTOS DO DEPOIMENTO:
Barra Torres admite dificuldades para importação de insumos da China
Ainda durante o depoimento, a importação de insumos da China. Ele afirmou que há “problemas pontuais” de demora de entrega de IFA para Coronavac e para AstraZeneca, que também recebe insumos vindos da China.
“De fato, durante o transcurso da pandemia, observamos essas dificuldades. Momentos em que o IFA demora um pouco mais a chegar ou chega um pouco depois, e vem realmente desses dois países [China e Índia]. O impacto deles na produção de medicamentos, praticamente no mundo todo, é imenso”.
O presidente da Anvisa, entretanto, não associa as dificuldades na aquisição de insumos às falas de Bolsonaro ou de pessoas próximas a ele. “Não tenho informação do nexo causal”, respondeu, quando perguntado se os problemas foram criados por declarações do presidente, de seus filhos ou do ex-chanceler Ernesto Araújo.
Análise da Sputnik V está parada, no aguardo de documentos, diz Barra Torres
Barra Torres também falou sobre a liberação do uso da vacina russa Sputnik V. Ele afirmou que a análise para uso emergencial da vacina Sputnik V, contra a Covid-19, está parada no órgão regulador. O pedido para a vacina, de desenvolvimento russo, foi protocolado no Brasil a pedido da empresa União Química.
"É muito importante que se entenda que esse processo que fizemos de interrupção ou de negativa da autorização excepcional de importação não deve somar a essa marca Sputnik V nenhum pensamento negativo", reforçou Barra Torres durante depoimento nesta manhã à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado. "Isso faz parte do processo", completou.
Falas antivacina
Ao ser apresentado por Calheiros a uma lista de declarações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro contrárias ao uso de vacinas contra Covid-19, o diretor-presidente da Anvisa disse que elas vão contra tudo o que a Anvisa preconiza em suas declarações públicas.
"Entendemos, ao contrário do que o senhor acabou de ler, que a política de vacinação é essencial, entendemos que não é fato de vacinas que vai abrir mão de máscaras e álcool gel imediatamente", afirmou. "Temos, sim, que nos vacinar. Se todos nós estamos sentados aqui nessa sala é porque algum dia, um responsável, ou pai ou mãe, nos levou pela mão e nos vacinou", continuou.
"Então, discordar de vacina e falar contra vacina não guarda uma razoabilidade histórica, inclusive (...) Penso que a população não deve se orientar por condutas dessa maneira, mas principalmente pelos órgãos que estão na linha de frente do enfrentamento dessa doença".