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Política

06/05/2021 às 09h27

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CPI da Covid: Teich afirma que deixou governo por não ter autonomia
Em 6 horas de depoimento, ex-ministro expõe divergências com Bolsonaro em relação à cloroquina.
CPI da Covid: Teich afirma que deixou governo por não ter autonomia
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
O ex-ministro da Saúde Nelson Teich prestou depoimento, nesta quarta-feira (5), à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado Federal, que investiga ações e omissões do governo federal no enfrentamento à Covid-19 e o uso de verbas federais na crise sanitária.

Durante a sessão, Teich afirmou que pediu demissão do Ministério da Saúde menos de 30 dias após assumir o cargo por não ter tido autonomia para realizar as ações que julgava necessárias no enfrentamento a pandemia.

Destaques do depoimento:

Divergências com Bolsonaro sobre a cloroquina
Segundo o médico oncologista, a situação ficou evidente nas divergências com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em relação ao uso da cloroquina no tratamento de pacientes com a doença.

“As razões da minha saída são públicas, elas se devem basicamente à constatação de que eu não teria autonomia e liderança que imaginava indispensáveis ao exercício do cargo. Essa falta de autonomia ficou mais evidente em relação às divergências com o governo quanto à eficácia e extensão do uso do medicamento cloroquina para o tratamento da Covid-19″, afirmou.

“Enquanto minha convicção pessoal, baseada nos estudos, de que naquele momento não existia evidência de eficácia para liberar, existia um entendimento diferente por parte do presidente, que era amparado na opinião de outros profissionais, e até do Conselho Federal de Medicina, que, naquele momento, autorizou a extensão do uso. Isso foi o que motivou minha saída”, complementou.

Teich também citou o episódio em que o presidente disse que o ministro da Saúde precisava estar “afinado” com ele. ““Aquela sequência mostrou que eu não teria autonomia para conduzir [o ministério]. Não havia sentido eu continuar” afirmou o ex-ministro.

Vacinas

“Não [havia medida em andamento para a produção ou importação de vacinas no período em que estive no cargo]. A vacina podemos separar em três pontos: 1) os estudos clínicos, quando está começando o desenvolvimento dela; 2) quando há produção e começa a ter uma venda antecipada; 3) quando há os resultados e já se sabe que ela funciona. No meu período, não havia ainda vacina sendo comercializada. Era o começo do processo da vacina, e foi quando eu trouxe a vacina da AstraZeneca para o estudo ser realizado no Brasil, na expectativa de que tivéssemos uma facilidade na compra futura”.

“Eu acredito que sim [seria possível ter acesso a mais vacinas do que o Brasil dispõe hoje], se tivéssemos entrado nas compras de risco. (…) São duas coisas distintas. Uma é o consórcio Covax Facility, que a gente poderia ter adquirido doses em maior quantidade. E a outra é a fase em que você pode fazer compras no risco, em que, se a vacina não der certo, você perde. Esse tipo de posição acho que tem que ser uma posição Brasil, porque é um grande volume de dinheiro que você coloca no risco. (…) Mas a gente, tendo uma estratégia mais focada em vacina, provavelmente teríamos tido mais vacina. Essa é a minha posição. Mas temos que lembrar que as vacinas demoravam, em média, 10 anos para serem desenvolvidas, a mais rápida levou quatro, e o que aconteceu com a Covid foi totalmente fora do padrão. Mas acho que, em uma estratégia em que a gente tivesse foco na vacina, provavelmente teríamos um acesso maior e mais precoce à vacinação”.

Medicamento sem eficácia e tratamento precoce


“Se aconteceu alguma coisa, foi fora do meu conhecimento (sobre produção de cloroquina por parte do laboratório clínico e farmacêutico do Exército) ”.
“Eu tinha uma posição muito clara em relação não só à cloroquina, mas a qualquer medicamento. Não sou a favor ou contra um medicamento” afirmou Teich sobre medicamentos sem eficácia.

“Naquele momento, a gente não tinha uma droga específica para Covid. A minha preocupação, na época, era justamente tentar antecipar, de alguma forma o tratamento. (…) Existia uma ideia, o tempo todo, de tentar fazer um diagnóstico mais precoce possível, para poder começar a tratar com coisas que podiam funcionar – e aquilo, obviamente, sempre baseado em acompanhamento e avaliação clínica”.

Saída do ministério

“As razões da minha saída são públicas, elas se devem basicamente à constatação de que eu não teria autonomia e liderança que imaginava indispensáveis ao exercício do cargo. Essa falta de autonomia ficou mais evidente em relação às divergências com o governo quanto à eficácia e extensão do uso do medicamento cloroquina para o tratamento da Covid-19. Enquanto minha convicção pessoal, baseada nos estudos, de que naquele momento não existia evidência de eficácia para liberar, existia um entendimento diferente por parte do presidente, que era amparado na opinião de outros profissionais, e até do Conselho Federal de Medicina, que, naquele momento, autorizou a extensão do uso. Isso foi o que motivou minha saída”.

Papel do governo federal no combate à pandemia

“Tínhamos uma relação tripartite [entre governo federal, estados e municípios], mas sem uma condição de liderança e coordenação do ministério naquele momento. Isso me parece uma situação de como o sistema se ajustou e que essa era a realidade do momento. Eu acredito que, em uma situação em que você precisa de liderança e coordenação, esse papel deve ser exercido pelo ministério, mas isso é uma coisa que você não consegue construir da noite para o dia, você precisa construir isso trabalhando junto com as outras partes”.

“A liderança tem que ser do Ministério da Saúde, e, indiretamente, tem que ser do governo como um todo”.


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