Cachorros estavam soltos na casa e bem cuidados, enquanto criança estava acorrentada e não comia há dias
Madrasta e a filha dela estavam na casa no momento da abordagem da Policia Militar (Foto: Polícia Militar)
A madrasta do menino de 11 anos, que foi encontrado acorrentado em um barril no Jardim Itatiaia, em Campinas, e causou comoção nacional tinha uma espécie de ONG (Organização Não Governamental) de cuidados a animais. Segundo a Polícia Militar, a associação não era regulamentada, e na casa onde a criança foi encontrada, havia cerca de 10 cachorros soltos pelo quintal. A mulher de 39 anos foi presa junto com o pai da criança pelo crime de omissão.
"Nós chegamos na casa e tinha muitos cachorros, todos bem cuidados. Soubemos que ela tinha uma associação de cuidado a animais que recolhia da rua. Cuida de cachorros e deixa uma criança presa numa situação que nenhum animal mereceria", disse o 2º Sargento da Polícia Militar Mike Jason, que acompanhou a ocorrência.
"Na casa tinha uns sete cães, todos soltos ou no colo da mulher e da filha dela. Com pelos brilhantes, coleira anti-pulgas, enquanto a criança estava acorrentada comendo casca de banana, fubá ou as próprias fezes", se indignou o policial.
Extremamente magro e debilitado, o menino foi levado pelos policiais ao Hospital Ouro Verde, onde segue internado. O menino tem quadro de desnutrição grave, e vai continuar internado até alcançar peso considerado adequado para a idade.
PRESOS EM FLAGRANTE
A madrasta, a filha dela e o pai do menino foram presos em flagrante. O pai vai responder pelo crime de tortura, enquanto as mulheres pelo crime de omissão.
A princípio, a informação era de que o menino não seria filho biológico e que o homem tinha "pego para criar". Depois, o homem, que tem a guarda do menino, confessou que era pai biológico, dizendo que a mãe tinha abandonado a criança.
Até a manhã de hoje (1º) o menino permanecia internado no Hospital Ouro Verde. Segundo a equipe médica, ele chegou com 27 kg, em situação extrema de desnutrição, mas passa bem.
ENTENDA O CASO
O pai da criança, a namorada dele e a filha da mulher foram presos no último sábado (30) manter o menino de 11 anos, acorrentado e sob maus-tratos, no Jardim Itatiaia.
Segundo a Polícia Militar, foi constatado que o menino era mantido nu, acorrentado pelas mãos e pés em um tambor de ferro exposto ao sol. O local, com menos de quatro metros quadrados, era coberto por uma telha do tipo brasilit e com uma pia de mármore por cima, para impedir a saída do garoto.
Em depoimento, o garoto, encontrado em situação de desnutrição, afirmou que não comia nada há três dias e era mantido naquela situação frequente no barril desde que completou 10 anos. O policiais tiveram que usar uma ferramenta de corte para tirar as correntes e os cadeados que prendiam a criança ao barril. Os responsáveis legais do menino receberam voz de prisão em flagrante.
ALÍ HÁ PELO MENOS 1 MÊS
O delegado responsável pelo caso acredita que o menino estava acorrentado dentro do tambor há pelo menos um mês. O menino chegou a inclusive, ver a virada de ano preso no local.
"Desde o começo de janeiro ele estava preso no tambor. Ele teria que ficar em pé nessa amarração. Era feito com os braços presos em cima do tambor", afirmou o delegado do caso, Daniel Vida da 2ª DDM (Delegacia de Defesa da Mulher), que investiga do caso.
Segundo a Polícia Civil, o pai disse em depoimento que o filho era muito agressivo, agitado e fugia de casa. Ele ainda alegou que fez isso para educar o menino. Durante a abordagem da equipe, a mulher alegou que não fazia nada se não o menino fugia.
"Tem que colocar porque não tem jeito, se não ele foge" disse ela durante a abordagem da Polícia Militar, registrada em vídeo.
Os vizinhos disseram que os maus-tratos a criança já ocorre há anos e que já denunciaram ao Conselho Tutelar. Segundo eles, a denúncia para a Polícia veio após notar o menino preso e sem sair para rua há meses.
E O CONSELHO TUTELAR?
O Conselho admitiu que já acompanhava a denúncia de maus-tratos a criança há pelo menos um ano e vai apurar se houve falha.
"A gente tinha conhecimento da vulnerabilidade da família, e por isso havia uma rede de apoio acompanhando, serviço social e saúde. Em nenhum momento dos relatórios do serviço que acompanhavam, chegou tamanha violência", explicou o conselheiro, Moisés Sezion.
Sobre o pai da criança alegar que o garoto tinha problemas mentais, o conselheiro afirmou que não há diagnóstico que confirme isso.
"Não há nenhum diagnóstico que confirme que o garoto esteja doente. Pode ser hiperatividade normal da idade. Mas, houve uma falha grande em deixar a situação chegar onde chegou", complementou.
Hoje será feita uma reunião com o Conselho Tutelar, o Creas (Centro de Referência Especializado em Assistência Social) e Caps (Centro de Atenção Psicossocial) para entender o caso.